segunda-feira, julho 05, 2010

Eles não tem para onde voltar no fim do dia



Desde quando comecei a estagiar na Associação Viva o Centro, logo conheci melhor o mundo dos moradores de rua. Sim, é aqui no Centro de São Paulo é que há a maior concentração.
Descobri que há anos se discute, discute, discute como solucionar esse "problema", mas só fica no bate-boca.
E em uma dessas descobertas, fui fazer uma visita ao Boracea. O maior local de recolhimento de moradores de ruas, idosos e covalescentes deste país. Fiz uma breve descrição do local que foi publicado no site da Associação (www.vivaocentro.org.br) e gostaria de compartilhar com vocês,


O repórter Thiago Soares, da Viva o Centro, acompanhou no começo da noite de segunda-feira (7/8) a visita da Frente Parlamentar da Câmara Municipal de São Paulo sobre Políticas Públicas para Moradores de Rua, à Oficina Boracea, na Barra Funda, para verificar o tratamento dado às pessoas ali acolhidas, como também à infraestrutura do local.

A fachada lembra uma prisão, cercada por muros enormes e cercas elétricas. Na porta de entrada, cerca de 30 moradores de rua, sentados no chão. Estão desolados por não conseguirem vaga para passar a fria noite paulistana no albergue. Um deles, M. P. S. G., 46 anos, vive há seis na rua: “Eu já fiquei cerca dois meses dentro do albergue, mas não consigo obedecer regras”. Lúcido, lamenta o que o levou a essa situação: “Sou viciado em drogas, já procurei ajuda, me internei em clínicas, mas não consigo largar o vício”. M. P. conta que em nenhum dos albergues foi tratado, mas que ele próprio procura ajuda para se recuperar da drogadição.

Logo ao entrar no Boracea se vê uma biblioteca, grande, mas fechada já às 19h. A gerente do local, Elza Maria de Oliveira, recebe a todos, permite a entrada, menos da equipe de câmeras e fotógrafos: “Terei o prazer de receber todos, só não posso permitir imagens”. Após longos minutos de discussão, o vereador Netinho de Paula entra em contato com a vice-prefeita e secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, Alda Marco Antonio, e as imagens são liberadas.

Ao entrar no complexo, a estrutura física impressiona. Elza explica que o local é dividido em três áreas: “O Boracea comporta 460 pessoas, são 60 vagas para idosos, 80 para convalescentes e 320 disponíveis para o albergue”. A gerente também diz que no inverno a capacidade de todos os albergues é aumentada em 20%.

A declaração causa estranheza nos presentes e Robson Mendonça, presidente do Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo, se revolta: “Se vocês têm capacidade de aumentar a capacidade em 20% por vários meses, durante o inverno, por que não fazer isso o ano inteiro?”. Elza afirma que o problema não é físico, mas financeiro: “O Boracea é enorme, com certeza tem condição de receber mais pessoas, mas a parte financeira nos impossibilita de aumentar a capacidade durante o ano todo”. Para Elza, é a Prefeitura que deve liberar uma verba maior, para que o Boracea aumente sua capacidade: “Já teve momentos, que precisávamos de remédios para pressão alta com urgência, e a Prefeitura nos informou que não havia nenhum a disposição”, reclama.

Não há mais canil no local, como havia na época da fundação, mas foram instaladas uma AMA e uma UBS. O telecentro também foi desativado para a construção do albergue de 16h. A oficina de artesanato continua realizando o seu trabalho com moradores de albergues, mas não mais no Boracea, pois segundo a responsável pela oficina, Márcia Fernandez, eles foram convidados a se retirar do local.

A Frente Parlamentar conheceu todos os setores do Baracea, que impressionaram pela limpeza, organização e pelo tratamento dado pelas enfermeiras, principalmente aos idosos e convalescentes. Havia um clima de certa satisfação pelo que foi visto, mas ao mesmo tempo o sentimento de que apesar do bom tratamento dado àquelas pessoas, ainda falta dar qualificação profissional, convívio familiar e um modo mais digno de vida.


Pretendo fazer mais posts sobre esse assunto. O ´negócio´ moradores de rua, fede mais que eles mesmo.

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