terça-feira, abril 02, 2013

Os evangélicos estão confundindo o verbo "evangelizar" com o "julgar"

Eu evito expor qualquer opinião nas redes sociais sobre os últimos acontecimentos envolvendo evangélicos, ateus, gays e demais. Tenho a minha fé e todos os próximos a mim a conhecem muito bem.

E como todos sabem muito bem da minha fé, não vejo necessidade de espalhar meus pensamentos e correr o risco de ofender meus amigos, evangélicos, gays, ateus e demais.

Imagina se eu digo que discordo de algum dos pensamentos do Feliciano? Alguns amigos evangélicos podem achar que é uma ofensa pessoal.

Agora, imagina se eu falo que concordo com algumas ideias do Malafaia? Eu vou criar apenas intrigas, aborrecimento com vários amigos s e nunca teremos uma discussão saudável sobre esses assuntos.

Mas antes que me venham dizer: "você tem vergonha de dizer o que pensa e crê", eu não gosto de compartilhar tudo isso em redes sociais. Quer me chamar para uma conversa sobre o assunto? É uma das coisas que mais gosto de fazer.

Mas nessa segunda-feira, estava lendo, como sempre, o blog Eliane Brum, no site da Revista Época. O título do texto é: "A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico".

No mínimo, instingante.

Até aí, ela poderia escrever um texto que eu simplesmente iria discordar de qualquer de todos os pontos. Até que então, ela me apresenta um seguinte diálogo com um taxista:

- De que religião você é?
- Eu não tenho religião. Sou ateia.
- Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve.
- Não, eu não sou religiosa. Sou ateia.
- Deus me livre!
- Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha.
- (riso nervoso).
- Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé?
- Por que as boas ações não salvam.
- Não?
- Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva.
- Mas eu não quero ser salva.
- Deus me livre!
- Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível.
- Acho que você é espírita.
- Não, já disse a você. Sou ateia.
- É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar.


Minha primeira pergunta ao ler isso foi: quem falou para esse sujeito que Jesus pega ou deixa de pegar alguém?

Tive e tenho uma educação cristã, que sempre me mostrou a importância de falar de Jesus para as pessoas. Mas nunca fiz isso sendo uma pessoa que pega a bíblia, senta do lado do colega e solta: Mano, ou você aceita Jesus ou vai brincar de bola de fogo com o demônio.

Isso é burrice. Ignorância. É deturpar aquilo que a Bíblia diz. Os evangélicos estão confundindo o verbo "evangelizar" com o "julgar". Falar de Jesus é algo tão simples, que, às vezes, com uma simples atitude, você já falou. Não precisa dizer "Deus me livre", se alguém simplesmente falar que é ateu, gay ou qualquer outra coisa. Já imaginou que imagem essa pessoa vai criar de você? Vai deixar de ser um "cara legal, que sabe conversar", com o "crente tapado, que não respeita opiniões".


E sabe por qual motivo isso acontece?

Como a Eliane cita no texto, toda essa "necessidade" que algumas denominações evangélicas de manter afastado qualquer pessoa que não compartilhe da mesma fé e crença, vem de algumas vertentes da igreja cristã evangélicas. Para eles, é imprescendível viver isolado numa caixa, sem qualquer contato com aqueles que não compartilham da mesma fé e crença.

Triste. Triste pelo que todas essas vertentes poderiam fazer pela sociedade, ao invés de julgar um pensamento, uma crença. Porque, na verdade, evangelizar é cuidar, escutar, dar atenção, ser social com uma sociedade que cada vez mais necessita de cuidado e não de julgamento..

Hoje, a "igreja" é um grande negócio. Puro capitalismo. Mas é a "igreja", não a Palavra.

E eu, como membro de uma das igrejas mais tradicionais do Brasil (Igreja Presbiteriana Independente do Brasil), que ainda se mantém longe desse capitalismo, percebo que ela não consegue enxergar a necessidade urgente de resgatar àqueles que estão aprendendo a julgar e não a evangelizar. Mas isso é assunto para outro post.

Um comentário:

Rafael Techima disse...

Como também não compartilho assuntos deste cunho nas redes sociais por aí - bom, na internet mesmo - só tenho a dizer que é bom saber que existem pessoas lúcidas que saibam tratar assuntos deste porte.

E o que mais falta nesse mundo é lucidez.